Farol Santander inaugura exposição inédita Trem das Onze – uma viagem pelo mundo de Adoniran, em homenagem a um dos mais influentes artistas de São Paulo e do Brasil
São Paulo, julho de 2018 – O Farol Santander recebe, de 24 de julho a 30 de dezembro, a exposição inédita Trem das Onze – uma viagem pelo mundo de Adoniran, apresentada pelo Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet, com patrocínio do Santander Brasil. A mostra retrata a vida e obra do compositor, cantor, ator e criador de grandes personagens do rádio, Adoniran Barbosa, uma das principais referências artísticas brasileiras.
Ocupando dois andares do revitalizado edifício no Centro da cidade, com aproximadamente 400m² no total, Trem das Onze – uma viagem pelo mundo de Adoniran levará ao público um rico acervo de fotografias, vídeos, partituras, objetos pessoais e trechos do documentário Adoniran – meu nome é João Rubinato, de Pedro Serrano. A mostra revela não só o universo da obra do artista, como também abre espaço para falar das origens de Adoniran e sua família, que vieram da Itália para o Brasil, além de outras passagens de sua vida particular.
Os visitantes terão a rara oportunidade de ver as peças pertencentes ao acervo pessoal de Adoniran, reunidas ao longo de quatro décadas pela esposa, Matilde, e mantidas longe do alcance do público desde os anos 1980. Nessa eclética coleção, estão itens como os clássicos chapéu e gravata borboleta, característicos do artista; a aliança feita para a esposa com a corda de um cavaquinho (história contada no samba “Prova de Carinho”); roteiros de rádios e novelas em que atuou, com anotações do próprio; roteiro do filme não rodado “O Sertanejo”, com dedicatória de Lima Barreto a Adoniran; fotos inéditas; ferramentas usadas e brinquedos feitos por ele em sua oficina; objetos pessoais como kit de barbear, ferro de passar e panela de fazer polenta, além de matérias de jornais e revistas da época.
“A importância de recebermos esta mostra está diretamente conectada com nossa ideia de promover o resgate das memórias culturais e da cidade de São Paulo, aliadas à arte contemporânea. Nesse sentido, ter uma exposição que fala sobre Adoniran Barbosa, um dos mais significativos artistas de São Paulo, no mais simbólico edifício da capital, é fundamental e gratificante para nós”, afirma Paola Sette, gestora do Farol Santander.
Logo na entrada da exposição, o público encontra diversos elementos que representam o multiartista e ambientam o andar para as seguintes alas da mostra. A sequência segue para o espaço Saudosa Maloca, em referência a uma das mais famosas composições de Adoniran. Há um varal com a partitura da música e algumas roupas estendidas, que terão estampadas fotos dele em importantes momentos de sua vida – com a ideia de conectar a região do Vêneto, na Itália, onde viviam seus antepassados, com as malocas de sua São Paulo.
Ainda nessa sala, há vitrines e objetos de época espalhados pelas paredes, complementando as imagens estampadas nas roupas: bicicleta, abajur, violão, toca-discos, luminária de táxi e máquina fotográfica. A Sala Saudosa Maloca avança pelos anos 20, 30, 40 e 50, e faz o público compreender como João Rubinato (seu nome de batismo) se tornou o sambista Adoniran Barbosa.
Logo começam a aparecer os objetos do acervo pessoal do artista, como a sua certidão de nascimento, partituras, discos e fotos. A segunda vitrine da sala apresenta algumas partituras de músicas dos anos 30, compostas, mas nunca gravadas por ele – e por isso pouco conhecidas do público atual.
“Mergulhar nesse acervo riquíssimo nos permite descobrir a cada dia algo novo sobre a história do rádio paulista, do cinema nacional e, claro, da cidade de São Paulo. Procuramos selecionar peças que retratassem esse artista multimídia que foi o Adoniran, sempre procurando construir uma narrativa coesa, mas não necessariamente cronológica. O visitante é capaz de compreender a trajetória artística e pessoal desse grande ícone paulista, numa experiência que dosa de maneira equilibrada o sensorial com o informativo”, esclarece Pedro Serrano, que divide a curadoria da mostra com o jornalista Celso de Campos Jr., biógrafo do sambista. Serrano dirigiu o curta-metragem ‘Dá Licença de Contar’ (2015), que narra histórias de personagens imortalizados nas canções do maior ícone do samba paulista e apresenta, no papel de Adoniran, o roqueiro Paulo Miklos. Premiado em festivais e aclamado pela crítica especializada, o projeto será transformado em longa-metragem.
Na sequência da exposição, outra vitrine apresenta Adoniran já como compositor de sucesso, ganhando prêmio de melhor música para o carnaval de 1952 (com o samba “Malvina”) e iniciando sua parceria com os Demônios da Garoa. Duas vitrines ainda abordam sua vida pessoal, trazendo mais objetos e fotos, como sua carteira de motorista, carteira de sócio do Corinthians e imagens de Adoniran em times de futebol da Rádio Record, onde trabalhava.
A última peça do varal é um lençol no qual são projetados trechos da participação de Adoniran no programa ‘Ensaio’, de Fernando Faro, na TV Cultura. Algumas placas de ruas que o sambista frequentava estarão espalhadas pelo cenário, assim como troféus e instrumentos musicais.
Depois de Saudosa Maloca, o visitante chega ao espaço Estação de Trem. O local reproduz a ambientação de uma estação ferroviária dos anos 70, na qual o visitante conhecerá a história do samba Trem das Onze, maior sucesso de Adoniran Barbosa. Duas vitrines contam o êxito nacional e internacional da música (que venceu o prêmio de melhor samba do Carnaval do Rio de Janeiro de 1965 e vendeu mais de 100 mil cópias na Itália), bem como a participação dos Demônios da Garoa nesse e em outros sucessos do artista. O espaço é uma grande instalação, com um vagão de trem ao fundo, imagem da cidade com o Farol Santander e indicações dos bairros cantados por Adoniran em sua obra.
Uma das facetas menos conhecidas do artista era seu talento como artesão. Com isso, já na sala Estação, o público terá uma amostra desse outro lado de Adoniran: um pequeno trem com locomotiva e vagão, feito pelo próprio sambista nos anos 1960 e batizado pelo próprio como Trem das Onze, será colocado em movimento.
Na sala seguinte, Vagão de Trem, o público entra na atmosfera do primeiro LP gravado por Adoniran, em 1974. Botões em mesas tocam quatro das composições de sucesso dessa obra: ‘As Mariposas’, ‘Já fui uma brasa’, ‘Bom dia tristeza’ (parceria com Vinicius de Moraes) e ‘Apaga o Fogo Mané’. Além da execução, as histórias de cada canção podem ser vistas e lidas nas mesas, em documentos e objetos pessoais originais.
Na sequência, há a sala Plataforma do metrô, destacando seu segundo disco, de 1975 – que, entre outras composições, traz o clássico “Samba do Arnesto”. Nesta ala, uma vitrine contém elementos que contam a história da música e do personagem Arnesto, como chapéu, fotos com Adoniran e a uma partitura da canção com dedicatória do compositor para o violonista Ernesto Paulelli, inspirador do samba. O espaço também traz uma TV com depoimento inédito de João Carlos Botezelli, o Pelão, produtor desses dois primeiros LPs de Adoniran.
Ao prosseguir a viagem dentro do Vagão do Metrô, o público conhece seu terceiro disco, produzido em 1980 por Fernando Faro. Ali, estão contadas as histórias das composições “Tiro ao Álvaro”, com registros de um encontro com Elis Regina, e “Torresmo à Milanesa”, parceria com Carlinhos Vergueiro.
Os visitantes encerram a passagem pelo 20º andar conhecendo uma parte intimista da história de Adoniran: sua Oficina. Trata-se de uma recriação da garagem onde o artista trabalhava para confeccionar, entre outros objetos, bicicletinhas em miniatura e utensílios domésticos. O destaque do espaço é um parque de diversões em miniatura, com roda gigante, carrossel e tobogã, feito por Adoniran na década de 1960 e restaurado especialmente para a exposição por Sérgio Rubinato, sobrinho do sambista. As ferramentas originais do compositor estarão expostas. O espaço traz ainda uma vitrine abordando as peripécias de seu cachorrinho de estimação, Peteleco, que virou até um novo pseudônimo de Adoniran, usado para assinar a autoria de algumas composições. Por fim, um poema original do cantor e compositor Antônio Marcos, feito no dia da morte de Adoniran, poderá ser lido pelo público pela primeira vez.
A mostra continua no 19º andar do Farol, cujo portal de entrada é uma caixa de fósforos. Além de ser o único instrumento que Adoniran tocava, esse acesso remete à época em que os pais de Adoniran imigraram para São Paulo: na região do Vêneto do final do século XIX, eram distribuídas caixinhas de fósforo com publicidade para que os italianos viessem compor a mão-de-obra no Brasil.
Quando se atravessa essa passagem, o público descobrirá os lados menos conhecidos de Adoniran. Em primeiro lugar, o de ator: no espaço Cine e TV, doze televisões exibem trechos de filmes e novelas dos quais o artista participou, com destaque para as raríssimas películas “Pif-Paf” e “Caídos do Céu”, rodadas no Rio de Janeiro nos anos 1940. Além deles, há trechos de “O Cangaceiro”, filme de Lima Barreto premiado em Cannes, e “Candinho” e “A Carrocinha”, produções estreladas ao lado de Mazzaropi. Dentre as novelas de TV de que Adoniran participou e que estarão sendo exibidas nas tevês estão “Mulheres de Areia”, “Os Inocentes” e “Xeque-Mate”, da TV Tupi.
Essa sala também expõe fotos, roteiros, contratos e outros objetos originais. Adoniran ainda interpretaria Antônio Conselheiro, líder de Canudos, no filme “O Sertanejo”, mas o projeto de Lima Barreto acabou não indo adiante. Essa história pouco conhecida é contada em uma vitrine especial na sala, que traz o roteiro original do filme.
Um outro espaço no 19º andar traz os bastidores da música “Prova de Carinho”, na qual o narrador faz uma aliança para sua mulher usando a corda tirada de um cavaquinho – o que, na teoria, o faria abandonar a boemia. A história é real: a aliança feita por Adoniran para Matilde estará numa caixa de acrílico, ao lado de fotos do casal. No local, os visitantes poderão ouvir a música e a história contada pela própria Matilde, em áudio dos anos 1980.
Adoniran e Matilde se conheceram na rádio Record e foram casados por 40 anos. Ela foi a grande responsável por guardar e manter o acervo pessoal do artista. Aqui, mais objetos pessoais, como chapéu e a tradicional gravata borboleta xadrez, estarão expostos aos visitantes.
Essa passagem o apresenta, também, como artista de rádio, veículo no qual teve grande destaque. Estrelou diversos programas humorísticos e interpretou alguns personagens criados pelo produtor Osvaldo Moles. O mais popular deles foi Charutinho, que fazia sucesso no programa “História das Malocas”, líder de audiência na rádio paulista entre os anos 1950 e 1960. Estarão expostos os seis troféus Roquete Pinto que Adoniran conquistou – o prêmio era considerado, à época, o Oscar do rádio. Nesse espaço também estarão suas carteirinhas da Rádio Record e os roteiros originais de Histórias das Malocas.
Como não poderia deixar de ser, pelo número de parcerias e amizades de Adoniran, a exposição ajuda a resgatar, também, importantes figuras como Osvaldo Moles, Lima Barreto, Pelão, Antonio Candido e Fernando Faro, todos com significativa participação na sua vida e obra.
Próxima do final, há uma sala com exibição de trechos do documentário Adoniran – Meu Nome é João Rubinato, de Pedro Serrano; é um espaço para um encontro com Adoniran, por meio de seus depoimentos e suas entrevistas.
A exposição é encerrada com um espaço poético: a Sala da Garoa. Nela, revela-se uma São Paulo que hoje só existe em fotos antigas e nos sambas de Adoniran. Um chão espelhado reproduz a primeira camada de garoa que se precipita sobre a cidade, e que, ao lado de gotas suspensas ao longo da sala, reflete as imagens da cidade e de Adoniran reproduzidas nas paredes. É um espaço de sonhos em homenagem ao seu cronista mais musical.
Resultados
A exposição ganhou destaque nos principais veículos brasileiros. Confira abaixo alguns deles: